quinta-feira, 24 de abril de 2008

DE UMA GRANDE DITADURA A PEQUENAS DITADURAS, MASCARADAS DE DEMOCRACIA


Comemoramos este ano os 34 anos da “Revolução dos Cravos”. A liberdade de opinião e a possibilidade de sermos nós próprios, sem estarmos receosos de represálias de qualquer índole, foram contributos que o 25 de Abril trouxe à sociedade portuguesa.
Como é próprio das revoluções, nem tudo foi positivo. Algumas vezes, o termo “Liberdade” foi deturpado e confundiu-se Liberdade com “libertinagem”. Porém, em termos gerais, podemos considerar que o 25 de Abril trouxe mais benefícios do que malefícios. O desenvolvimento do nosso país é consequência da possibilidade de podermos abrir-nos para o exterior e colocarmos em acção todas as nossas potencialidades. Surgiram múltiplas associações que na sua pureza tinham a função de dar a possibilidade à sociedade civil de materializar as suas capacidades, sem estarem dependentes, em termos ideológicos, de qualquer força política.
Antes do 25 de Abril, uma grande parte dos organismos estavam directa ou indirectamente dependentes de uma ditadura que desejava a bem ou a mal controlar. Assim, os benefícios económicos e sociais eram pertença daqueles que estavam com o regime.
Quem não era a favor do regime e tinha a coragem de pensar pela sua própria cabeça, estava condenado à perseguição, à tortura e, algumas vezes, à morte. Vejam-se personalidades como Dr. Mário Soares, Dr. Álvaro Cunhal, Gen. Humberto Delgado, o bispo D. António Ferreira Gomes, etc.
A democracia era um bem que todos ansiavam e desejavam. A democracia era a chave para o desenvolvimento e para uma sociedade mais justa, com melhores condições sociais e económicas que possibilitariam aos portugueses permanecer nas terra que os viu nascer,
Após estes 25 anos, poder-se-á perguntar se a democracia já chegou a todos os portugueses. Fazendo uma análise generalista da questão, poderemos dizer que vivemos numa democracia. Numa análise mais particular, não haverá ditaduras mascaradas de democracia?
Porque será que o desenvolvimento do interior não se faz? Porque será que cada vez mais as pessoas deixam a sua aldeia e partem em busca de melhores condições de vida? Não tenhamos dúvida, a chave para o desenvolvimento está nas pessoas.
Não haverá receio que o desenvolvimento possa colocar em causa os interesses particulares de alguns? Quantas vezes, esta ou aquela grande empresa poderia vir para o interior e só não se verifica porque não há pressão, pois isso colocaria em causa o domínio total desta ou daquela pequena empresa que ajudou a colocar no poder este ou aquele Presidente da Junta ou da Câmara?
Quantas vezes as pessoas deixam de exprimir aquilo que pensam e aquilo que sentem, pelo facto disso colocar em causa o seu posto de trabalho?
Quantas vezes os novos “pides” aparecem disfarçados de gente de bem?
Quantas vezes as Associações deixam de ser elas próprias para se colocarem ao serviço desta ou daquela força política?
Quantas vezes o “despir a camisola partidária” após as eleições é um mero formalismo retórico que na prática não se verifica?
Dizia o antigo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes: “De pé diante dos homens; de joelhos diante de Deus”. Esta frase retrata a atitude que todos deveríamos ter. Àquilo a que temos direito, deveremos reivindicar e exigir. Muitas vezes menosprezamo-nos e esquecemo-nos que também temos valor, independentemente do poder económico, família, habilitações literárias, etc.
A região do interior só se desenvolverá quando todos interiorizarmos esta mensagem do antigo Bispo do Porto.
O verdadeiro 25 de Abril só chegará ao Portugal profundo quando os políticos se consciencializarem que todo o seu agir deve ser em função do bem comum e não em função daqueles que votaram neles.
Afinal, de uma grande ditadura, passámos a ter pequenas ditaduras, com a agravantes de estarem mascaradas de democracia.

3 comentários:

Al Cardoso disse...

Caro Joao Paulo:

Dou-lhe os meus sinceros parabens pelo excelente artigo, em que eu nao conseguiria escrever, nem descrever melhor, situacaoes que todos conhecemos!
Durante toda a minha vida, tenho tentado por em pratica, essa maxima do antigo Bispo do Porto, mas por vezes gente como nos, tem muitos amargos de boca, resta-nos a consolacao de dormir tranquilos, pois nao nos pesa a consciencia de ter atropelado ninguem no nosso caminho, muito pelo contrario.
Um feliz feriado que por razoes obvias, nao comemorarei tanto como o meu amigo!

Um abraco de amizade dalgodrense.

Amaral disse...

João Paulo
Falas em muitas personalidades (e acrescento muitos anónimos) que ansiavam pela democracia, pela liberdade.
A revolução deu-se, mas será que mudou alguma coisa? Numa análise directa diremos que sim, que mais não seja deixou de haver ditadura. Porém, muitas coisas se mantêm e outras estão tão dissimuladas e/ou mascaradas que a diferença entre antes-depois de 25 de Abril é muito ténue.
Sem dúvida que o 25 de Abril só chegará quando quem manda souber impor-se a si mesmo as leis iguais aos outros.
Bom feriado e bom fim-de-semana
Abraço

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com este teu artigo. Quando os interesses individuais, o poder e o clientelismo se sobrepõem ao bem-comum algo de errado se passa.
Em meios mais pequenos, sem grande expressão ao nível dos media (que não são tão inocentes quanto isso...)e onde tudo é mais fácil de controlar esta situação é, provavelmente, mais grave e evidente.

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