domingo, 2 de dezembro de 2007

Apostar no ser humano para ganhar o desenvolvimento



Eis mais uma das ruas da minha terra. Por ela, foram muitas as gerações que por lá passaram. Neste balcões, no Verão, era comum as pessoas sentarem para "apanharem a fresca". Na minha infância sentei-me muitas vezes nestas escadas, ouvindo histórias dos mais velhos. Eram momentos únicos: escutar aqueles que eu considero "bibliotecas vivas". Hoje, este ritual vai sendo ultrapassado pela TV e internet. Muitos destes seres humanos já não estão entre nós. Também eles tinham muitos sonhos, alguns dos quais não conseguiram realizar.


Quantas vezes esses sonhos foram castrados, só por causa do medo de arriscar, e de não acreditar!

Reflectindo acerca da sociedade e da personalidade das gentes das terras de Algodres, onde me incluo eu próprio, fico com a sensação que, por vezes, nós, devido ao contexto em que estamos inseridas, não acreditam nas potencialidade que possuimos. Considero que há toda uma cultura tão enraizada, com muitos anos que faz com que muitos se resignem à situação em que se encontram. À semelhança da Idade Média em que o nosso destino estava marcado por Deus de acordo com o berço e por isso não havia nada a fazer. Quem nasceu numa familia dita "nobre" será sempre vista como "o filho do Sr...." e não se olha se o mesmo é competente na profissão que exerce ou se é um cidadão exemplar perante os seus conterrâneos. O mesmo acontece relativamente ao que nasce num berço, cuja familia é considerada humilde. Este é visto como alguém que, à partida, esta limitado ao facto de ter nascido nesse berço e é sempre visto como alguém que jamais chegará longe.Daí, verificarmos que muitas dessas pessoas, fora da sua terra conseguem ser grande empreendedores e muito respeitados nas terras que os acolheram. Penso que é esta abertura que falta e acreditar que o mais importante é a pessoa que cada um é, independentemente da família ou da terra onde nasceu. Com o 25 de Abril, visava-se que este ideal de igualdade e acreditar na pessoa humana fosse uma realidade. Infelizmente, ainda há que levantar algumas barreiras. Até ao nível autárquico, há que sensibilizar as pessoas a acreditarem que são capazes de ter ideias novas e a avançar em projectos diferentes independentemente da família, dos estudos, da terra onde nasceu, etc.

O mesmo deve acontecer a quem escolhe a nossa terra para trabalhar ou a quem regressa depois de alguns anos fora da sua terra, um busca de melhores condições de vida. Estes trazem um potencial que deve ser aproveitado, acolhendo-os e aceitar as ideias novas que trazem consigo.

Num mundo global onde vivemos, cada vez as fronteiras são mais ténues. Nós devemos abrirmo-nos ao mundo com o que somos e acreditando em nós e nas nossas capacidades, independentemente da família, religião, raça, etc. Com o contributo de todos, teríamos uma terra mas desenvolvida.Há que passar de um Teocentrismo para um Antropocentrismo!

4 comentários:

Al Cardoso disse...

Quanto eu concordo com o meu amigo!
Sabe eu estou convencido que um dos grandes obices ao desenvolvimento da nossa terra, tem sido precisamente esse.
Ja por varias vezes ate escrevi, que Fornos (a vila em si)o pior que lhe poderia ter acontecido foi ter sido a casa e uma enormidade de familias "nobres" que eram os senhores de praticacamente tudo e que mesmo depois do 25 de Abril nao so nao faziam como nao deixavam fazer.
Felizmente passados mais de dez anos dessa data,la se conseguiu quebrar o ciclo mas foram dez anos perdidos que nunca mais seram recuperados. Entretanto despovoamo-nos e quanto menos gente ha, menos ideias e menos possibilidade de realizacao!

Um abraco de amizade.

Amaral disse...

João Paulo
Tens razão. O Português, por natureza, parece avesso a mudanças. Fecha-se no seu umbigo e não partilha, não nasce para os outros e para o mundo.
Depois... depois o interior isola-se e fica despovoado.
Boa semana
Abraço

Carlos de Matos disse...

Amigo Fornense ;o))

apreciei a sua mensagem porque ela é universal. Penso que todos nos tivemos um testemunho do passado por antigos, pessoas que outrouramente nos legaram uma herança que hoje nenhum euro poderia comprar.
Lembro-me do Tio Carlos Guerra ( fotografo e homen moderno) em Forninhos que falava horas e horas enquanto o meu avô concertava os sapatos ou então o Tio Joaquim Cobra (ex combatente da primeira guerra mundial) que relatava as suas aventuras por terras francesas em 14-18 ;o)) entre outras historias a volta de uma braseira...
Como tu recebi uma mensagem que me levou a ver o mundo de uma maneira alerta e humanista...
Essa diversidade não esta na tua conclusão... antropocentrismo seria reductor em relação ao humanismo que essa sabedoria popular nos legou. Pessoalmente penso que alem de qualquer religião ou sentimento os antigos tinham uma humanidade que apreciava o individuo no seu contexto com falhas e um lado bom... Certos valores ainda hoje partilhados na nossa cultura são directamente ligados a esse "back ground". Orgulho-me dessas pessoas humildes, integras que altearam não obstante as suas condições de nascimento. Sempre houve pessoas que sairam para a frente... e faziam a unanimidade ..

Hoje o perigo seria o nombrilismo e arrogancia de certos ignorantes que se apropriaram o poder da opinião...

Penso que antigamente havia mais gente que ousava tomar a palavra e dizer as coisas como eram... a franqueza e a gentileza era outra das qualidades dos nossos avôs...

Semper in Memoria

Unknown disse...

A Rua do Carvalho, onde passei parte da minha infância. Lembro com saudade os tempos de verdadeiro convívio que ali passei, não só com os jovens da minha idade, como com os mais novos e ainda com os mais velhos.
Não há dúvida, de que o 25 de Abril, quebrou muitas barreiras, que agora parece haver alguns, a querem reerguer.
Cabe a todos, especialmente aos jovens, porque o futuro, será deles, não permitirem que volte o tempo da canga.

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